Strips (da Alma)

Sunday, March 27, 2005

Sussuras-me o nada que tens

Sussuras-me o nada que tens em ti ao ouvido, sussuras-me o teu cruel gemido de dor, de prazer, de amor. Susurras-me a vida, o ar, a beleza do mundo que só tu tens no teu sussurro e a sussuras só para mim, a paz, a morte condensada num suspiro em que usas a palavra "fim".
As tuas mãos no meu corpo. A suavidade da tua pele, macia como nenhuma outra. O teu cheiro, o teu perfume, eu a enloquecer só de o sentir... Olhar para ti. Os teus olhos, verdes como não há. Saborear cada pedaço de ti, guardar o teu sabor para sempre dentro de mim. Sabes a sonhos que se tornam reais em outros sonhos destinados a serem pesadelos. Sabes a desejo, sabes a pecado, a luxúria, a prazer, a dor, a veneno, a morte e a vida. Ouço a música que é o teu suspiro, ouço as tuas palavras "anda cá, quero fazer amor contigo". Obedeço. O meu corpo só te sabe obedecer.
Beijas-me. Os teus lábios são irreais. Sinto-os nos meus como se toda a vida fizesse sentido apenas naquele momento e apenas para poder viver aquele momento. Encostas-me à parede. Beijas-me, beija-me!, beijas-me, como nunca nenhum outro me vai beijar. Beijas-me como se a tua vida dependesse disso. A minha depende. Entrego-me por inteiro e beijo-te também. Cerro os olhos com violencia, para não deixar escapar aquele momento nunca. Agarras-me pela cintura com uma mão. A outra acaricia-me os cabelos. E beijas-me ao som da nossa musica "donne moi ton couer, ton cors baby...je veux une femme like you...", tocas-me ao ritmo da nossa música. Fazes de mim a tua estrela. Agarro-te, toco-te também. É a tua vez de sentir a parede. Domino-te, esqueço-me da vergonha, lembro-me apenas do desejo que tenho de ti. Beijo-te. Dispo-te a camisa. Surge um peito divino, cuidado, trabalhado, forte, um peito onde não mora coração mas onde foi depositada metade da beleza do mundo. Da rua vem um vento agradável, uma luz difusa, perfeita. Agarras-me, despes-me, aprecias-me como se eu fosse uma obra de arte de um escultor qualquer, divagas no meu corpo e nele afogas os teus mais profundos desejos, as tuas ânsias, os sonhos. Inspiro e sinto-me arrepiar. Agarras de novo em mim e fazemos amor ali, naquela parede, no chão, na cama, no sofá, desesperados um do outro. Não quero que acabe nunca. Limpo-me de qualquer pensamento que não seja o aqui e agora, de qualquer pensamento que não seja esta absoluta felicidade de te sentir, de te ter, de me dar e de receber tanto. De receber tudo. A vida explode dentro de mim. Desfaleço de felicidade, da mais genuina das felicidades, de cansaço e de amor e adormeço no teu peito. Envolves-me nos teus braços e dizes que sou a mulher da tua vida. A nossa música não para de tocar (quantas vezes já repetiu?). Pago com o corpo este amor. Pago com a alma o teu sussuro cheio do nada que te habita e do tudo que eu ouço nele. Pago com a vida a crueldade das tuas palavras. Agora já não aprovas que o sangue corra. Acabou. "Ando com ela há cerca de uma semana...". "Amo-te Xanoca, há um mês... contigo!". Pago os dias de felicidade, os dias em que faziamos amor e eramos felizes com a minha vida. "E pudesse eu pagar de outra forma..."
Espero voltar a fazer amor contigo. Espero ressuscitar um dia contigo em mim.
'A cidade está deserta e alguem escreveu o teu nome em toda a parte. Nas casas,nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura, ora amarga, ora doce para nos lembrar que o amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cura'

Morgaine

Noites em claro e a lua tão distante

Noites em claro, é claro que todos temos, tal como temos todos os nossos os nossos altos e baixos, mas no entanto há pessoas piores que eu, mas como estou sozinho só me posso preocupar comigo (pelo menos é o que deveria fazer), mas faço-o mesmo sem saber, sem te consciência desse acto, faço porque, e só porque, é uma questão vital, ou seja, que me mantêm vivo.
È errado pensar que estou só porque estou com a minha consciência e ela faz com que possa olhar a minha vida tão claramente que quase… quase não, que dói pensar que mereça que a lua do destino não brilhe para mim e só para mim. Quando olho para ela não tem magia, não vejo o luar há anos, poderia pensar-se que é impossível mas o luar para mim não existe tal como muitas outras coisas…
Há pessoas que não existem, há sentimentos que não existem, há considerações que não existem, só os suspiros e os queixumes, o que me faz pensar se há vida em mim. Há? A resposta por agora fica guardada no lado escuro de uma lua que só mostra metade daquilo que tem.
Pensamentos que me ocorrem enquanto as horas, os minutos e imaginem até os segundos passam, só ainda não consegui acertar, num encontro desejado, a hora a que o sono chega, nem o dia em que a minha alma terá paz. Mas vendo bem, já a tenho, não é este silencio à minha volta uma forma perfeita e inequívoca de paz? Tanto me faz…
Se tivesse que haver alguém para justificar a presença das reticências (suspensão de ideias) com certeza seria um forte candidato, mas com toda a certeza não seria o único! Há qualquer coisa em que quer carregar as dores alheias, porque quero a todo o custo ser único em algo mesmo que isso me destrua, mesmo que me custo tudo, não quero ser um dos… quero ser o tal, mas não consigo! Parece-te um lado escuro? (estou a perguntar (h)à minha consciência) mas não é porque o lado escuro não se mostra.
Voltando ao assunto da paz quero dizer que apesar de estar psicologicamente turbulento, estou fisicamente calmo, ou seja quase ninguém nota que estou completamente dominado por tudo o que é contrário à paz, uma insónia permanente que me faz ficar pensativo e ocasionalmente, durante as vinte e quatro horas do dia, me faz chorar pensar que não presto… durante essas horas que parecem minutos, em que dura a expulsão da raiva de mim próprio e em que falo a sós comigo e digo tudo aquilo que queria dizer às pessoas que se cruzassem no meu quarto. Mas infelizmente não passou por aqui ninguém, e então procuro-os na rua e da janela vejo o fundo de uma rua deserta, é demasiado tarde para andar alguém na rua, mas agora oiço e pressinto que vem aí alguém e vêm mesmo, com os olhos a brilhar (não por causa do luar que não o vejo há anos) procuro avidamente quem chega para me salvar.
Fechei a janela e voltei a chorar porque eram os homens do lixo… já me vieram buscar?... (adormeci por 5 minutos…)


O Sapito (Emanuel Almeirante)

Friday, March 25, 2005

De janela fechada mas de coração aberto

Tenho pena dos que pelo caminho encontram sempre as portas fechadas, dos que se cruzam sempre com os obstáculos, dos que correm sempre para os caminhos sem saída. Mas sinto ainda mais comiseração daqueles que, como eu, para além de terem sempre as portas da vida, da esperança e da felicidade fechadas, nunca encontram uma janela aberta. Daqueles que, como eu, já não acreditam em saídas fáceis, daqueles que já viram tudo, daqueles que já olharam a dor nos olhos, daqueles que como eu tentam sobreviver todos os dias a eles próprios.
Podia ter sido uma criança infeliz. Gorda, demasiado grande e tonta para ter amigos, fui empurrada para fora do círculo pela crueldade natural das crianças. Fui, desde cedo, observadora, personagem secundária, vulto sem rosto nem nome, massa a que ninguém amava, de quem ninguém sentia falta ou pena, ou vontade simples de abraçar e de dizer “vai ficar tudo bem”. Era a menina que fica sempre nos baloiços e que não desenha com cores. Era a gorda, a desajeitada, o patinho feio que nunca se transformaria em cisne. Nunca. Só repararam em mim mais tarde, já na escola primária, quando me pediam para ler as histórias do livro, quando queriam sonhar ao som da minha voz que se atrapalhava pouco com as letras e as frases, que as percorria, na sua natural simplicidade de histórias infantis.
Quando não era a hora da história eu despia a minha faceta de Sherezade e voltava a ser a menina desajeitada e gorda, que ninguém conhece, que ninguém quer conhecer. O vulto sem nome nem rosto que vagueava pelo pátio, dois ou três livros aos quadradinhos debaixo do braço, lidos às escondidas na aula, uma corda para saltar desajeitadamente, atrás do pavilhão, onde não há ninguém. Um casal de namorados que não tem medo de mim, que troca livros aos quadradinhos comigo é a minha única companhia.
Fim da escola, inicio do pesadelo. Arrastava o meu corpo gordo, desajeitado e demasiado grande para a idade até ao colégio, invejando profundamente as minhas coleguinhas, que vestiam saias pelo joelho e meias à riscas, e que eu admirava da janela fechada do colégio, com o coração aberto e cheio de esperança de um dia ser como elas, de um dia deixar de ser um vulto gordo e grande, sem rosto nem nome, e passar a ser alguém, assim como elas, alguém que as pessoas soubessem o nome e a morada, alguém que tivesse amigos nas festas de anos, alguém a quem era uma honra emprestar as canetas, alguém cujas palavras eram um prémio chorudo e sonhado pelas centenas de crianças que não tinham lugar no palco e que, como eu, observavam.
Da minha janela fechada via o mundo. Da minha janela fechada via como era ser uma barbie real, como era ser popular, como era não ser um vulto, como era ser importante. Via como os meninos corriam atrás de uma bola, alheios a tudo. Via como as meninas das saias pelo joelho vestiam e despiam as bonecas e como olhavam pelo canto do olho para os meninos. Via e ria-me quando elas choravam só porque tinham rasgado a meia ou sujado o sapatinho. E, sem saber, era feliz. E, sem saber não sabia que sofria por não ser como elas. E, sem saber, sonhava através da janela fechada, e era, por momentos, uma delas, e, por momentos, era importante e real. E era uma realidade vazia e supérflua, como todas as realidades, e, por isso era feliz.
Hoje perdi essa capacidade de viver uma realidade em que as pedras são só pedras e as flores apenas flores. Hoje já não encontro a felicidade na utopia de um sonho irreal, falaz, ufano. Hoje, da minha janela fechada, choro, com o coração aberto, à espera de alguém que já não vem. Da janela fechada olho a rua e os caminhos e tento neles adivinhar o regresso de quem me fez acreditar que eu não era apenas um vulto sem rosto nem nome, que eu era uma personagem principal, esse que me fez feliz e vazia e tão cheia da pueril alegria de quem não é mais do que é e não tem mais do que tem.
Tenho pena de ter de novo a porta e a janela fechadas. Tenho pena de ter perdido a esperança. Voltei a ser o vulto sem nome nem rosto que vê o mundo de uma janela fechada, mas sempre de coração aberto.

Morgaine

Olhar pela janela e ver em ti as caras do vento...

Olhar pela janela e ver em ti as caras do vento... já é uma sorte ver-te porque ao mesmo tempo que te vejo cá de dentro sinto que aos poucos sais sem me dizer nada, foi o que sempre fizeste!
Olhar para mim e perceber que por tua causa já não sou mais aquela pessoa de que eu pensei que um dia viesses a pelo menos amar por segundos, mas que na realidade, não só por culpa tua, mas por culpa minha, tu nunca amas-te! Porque tal como aprendi não se sente amor instantâneo, como me diziam e seduziam os teus olhos, gestos e o que julgava pensares e queres tirar de mim! E tiras-te! Contente? Mas na realidade sempre me tiras-te o que querias, o corpo, mas nunca levavas o que eu queria que me levasses, a alma.
Saber que até o sofrimento que passei foi positivo porque obviamente mostrou que te amava mais do que a mim, mas depois vi que nem merecias que eu existisse para ti! E aí foi quando comecei a desmoronar por mim abaixo e fazer coisas que, embora n te apagassem, davam para me libertar de mim... n tens direitos sobre mim! Agora acabou!
Passei (-te) á frente e fiquei só eu porque se foi assim já que nasci n é desastre nenhum ficarmos só nós no nosso coração, eu e os meus amigos mas ninguém fica da maneira que tu já ficas-te, porque eu não deixo que me façam mais o que tu me fazes e fizeste, e o que não fazes e o que não fizeste. Não quer dizer que não ame ninguém, mas essa pessoa vai sofrer com as coisas que me fizer (e também vai sofrer as consequências das tuas acções).
Sabes que também vi como se pode ser feliz, sentir-se bem seja lá como se é. Sim eu descobri que tu foste és e serás o caminho a não seguir, aquele livro que não queremos abrir, pensar repensar e voltar a pensar antes de agir. O contrario faço na escrita penso mas não raciocino, as linhas são agora como tu já foste irracionalmente bom sentimentalmente destruidor.
Sou agora uma construção de mim próprio, estou feliz porque pela 1ª vez desde que me conheço, sou aquilo quero ser e não o que os outros querem que eu seja. É como se fosse o reverso da medalha, a outra face de uma moeda que não vale o material que foi gasto (pelo menos para ti), afinal que sabes de mim? Nem eu sei... mas vou descobrir, prometo a mim e a todos excepto a ti (porque embora vivas não te incluo no meu mundo).
Sabes o que penso de ti? Sabes o que penso de mim? (não sabes não!). Já me disse muitas vezes que não presto mas a verdade é que até digo isso para me convencer do contrário, porque no fundo presto! Sou o que quero (agora) ou sou só uma consequência do que já fui... aprendo com aquilo que tenho sido e por isso já sou melhor que a minha própria mediocridade, portanto estou a milhas do que tu podes aspirar a ser...
És uma brisa, passageira mas mais que uma brisa para pior porque já me fizeste sofrer mas para melhor porque me fizeste crescer, apesar de todas as duvidas que me impuseste o vento do sofrimento levou-te! Deixou a lembrar para não voltar a escorregar em ti, nojo do que já senti (só porque foi por ti!).Olhar pela janela e ver em ti todas estas caras, que escrevi mais todas aquelas que não consigo escrever, é como olhar e ver as mil e uma caras do vento... forte, apaixonante, destruidor… mas passageiro.

O Sapito
(Emanuel Almeirante)
21/03/05